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Uma Noite de Insônia

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Abro os olhos e o quarto ainda está escuro. Olho para o rádio-relógio. São 3 horas da manhã e o sono já foi embora. O Paulo dorme placidamente. Sinto inveja. Viro pro outro lado. Começo a pensar nas coisas que preciso fazer quando acordar. Isso se eu acordar mais uma vez ainda hoje. Espanto os pensamentos porque dizem que se a gente ficar pensando nas coisas que tem pra fazer a gente não pega mais no sono. Deus me livre. Preciso dormir. Melhor contar carneirinhos. Dizem que é infalível. 1, 2, 3, 20, 50, 200. Quebram a cerca e saem em disparada. Filhos da puta. Viro pro outro lado e, mais uma vez, dou de cara com o Paulo dormindo. Lembro-me daqueles filmes românticos em que a pessoa acorda antes e fica admirando o parceiro, que logo abre os olhos (sem remela), dá um sorrisinho maroto e pergunta: você estava aí me olhando dormir? Brega, muito brega. Viro para o outro lado e tento tranquilizar minha mente. Dizem que pensar em um lugar calmo, com natureza ajuda. Resolvo tentar e penso em um gramado verdinho, pássaros voando. Ouço até o som dos pássaros. Penso em um riachinho e ouço o barulho da água caindo calmamente. Sinto vontade de fazer xixi. Olho pro Paulo, dormindo placidamente, e saio da cama com todo o cuidado para não acordar o coitado que tem que levantar cedo amanhã. Ou melhor, hoje. Volto para a cama e penso no que preciso comprar no mercado, no que vou fazer para a janta. O gramado, volta pro gramado. Verdade, o gramado. E se eu pensar que estou meditando? Quem sabe eu medito mesmo e durmo? Tento me concentrar, mas acabo não meditando nem dormindo. Viro para o outro lado. Talvez se eu der uma olhadinha no celular, posso ter likes no Facebook, coraçõezinhos novos no Instagram. Mas mudo de ideia antes de arruinar completamente minhas chances de adormecer antes do Paulo acordar. Dizem que se pegar no celular de madrugada, pode esquecer. É o fim. Viro de novo e me vejo como aqueles frangos que vendem na padaria todo domingo. Hum. Sinto fome. Penso em descer pra beliscar algo na cozinha, mas logo desisto. Dizem que se a gente come de madrugada o organismo se acostuma e começa a pedir comida toda a madrugada. Já pensou? Vai que o meu se acostuma logo na primeira vez. Melhor não. E se eu lesse um livro? Mas aí teria que acender o abajur o que, muito provavelmente, acordaria o Paulo. O coitado do Paulo que tem que levantar cedo pra trabalhar. Penso em ir para a sala assistir algo na televisão. Mas nessa hora não vai ter nada de bom. Talvez uma série na Netflix? Mas se eu for para a sala agora tchau-tchau sono. Melhor tentar mais um pouco porque dizem que se a gente ficar quietinho o sono vem. Vou ficar aqui quietinha. Mas o que será que tá passando na televisão? Nessa hora, filme pornô, claro. Hum, e se eu acordar o Paulo pra uma meia horinha de sexo? Ele sempre fala que se eu tiver vontade de noite é só cutucar que ele acorda preparado. Mas acho que é brincadeira dele. Vai acordar irritado. Coitado, tá quase na hora dele levantar pra trabalhar. Olho para o relógio. Já são seis horas. Que hora será que o Paulo colocou pra despertar? Às vezes ele acorda um pouco antes do despertador. Olho para o Paulo e seu semblante calmo me diz que ele vai esperar a merda do despertador tocar. Já são 6h15 e nada do despertador. 6h29, agora vai tocar. Nada. Será que o Paulo se esqueceu de colocar para despertar? Acho que vou dar um chacoalhão nele. 6h45 o bip do despertador soa como música para os meus ouvidos. O Paulo acorda resmungando. Choraminga alguma coisa e se levanta. Bem-feito, quem manda dormir. Bem-feito. Agora levanta que tá na hora de ir trabalhar.

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