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Daquelas Pessoas

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Ontem eu discuti com meu marido. Quando acordei, tinha uma carta sobre o criado-mudo. Não era um bilhete de despedida, nem uma confissão prévia de suicídio iminente. Era uma carta escrita com raiva, calcando a caneta com força no papel. Cheia de críticas. Se referindo a mim, várias vezes, sempre de forma pejorativa, como parte de um seleto grupo. O grupo ‘daquelas pessoas’. Vejam se eu não tenho razão de ficar chateada:

"Ontem você foi além dos limites. Eu sempre soube que era daquelas pessoas que fazem questão de levar os sabonetinhos dos hotéis mesmo que depois não os usem porque ressecam a pele. Sei que você é daquelas pessoas que pedem a senha do Netflix dos familiares pra não terem que pagar uma assinatura própria. Daquelas que compram filme pirata na banquinha da feira para não terem que assinar HBO. Sempre fingi não perceber a sua boca cheia de brigadeiros nos domingos pós-casamento, mas sei que é daquelas pessoas que levam saquinho zip na bolsa para surrupiar os docinhos no final da festa. Daquelas que escolhem a pizza mais preocupadas em combinar duas metades do mesmo valor do que exatamente com os sabores que estão com vontade de comer. Daquelas que quando vão à churrascaria se matam de comer picanha com alho, mesmo que prefiram o franguinho e o cupim. Você não vai negar agora que é daquelas pessoas que compram 5 sutiãs na promoção Pague 4 e Leve 5, mas depois ficam com um só e vendem as peças avulsas para as vizinhas com peitos de igual tamanho. Confesse que é daquelas que 'esquecem' a carteira quando saem com os amigos. E daquelas que só vão ao cinema de terça-feira porque é mais barato, sempre com bolacha camuflada na bolsa pra não terem que comprar pipoca. Disso tudo eu já sabia. Agora, embrulhar minha camisa usada fingindo que é meu presente de aniversário já foi demais. Nunca imaginei que você fosse dessas. Francamente."

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